Em
outubro passado a organização do Rock in Rio 2013 anunciou uma “partícula” do cast que fará a alegria dos presentes na
Cidade do Rock. Partícula nada desprezível, tendo em conta que nela estão
presentes dois grandes nomes do Metal Clássico: Iron Maiden e Metallica.
Gostaria
de escrever um pouco da minha relação com a segunda banda, os mestres do Trash
Metal (pelo menos naquela época dava para enquadrá-los assim), a
norte-americana Metallica. Meu primeiro contato com essa banda aconteceu por
volta de 1988. Um amigo de uma das minhas irmãs havia emprestado dois vinis, um
do The Cult, chamado Electric (fantástico rock à la ACDC), e o maravilhoso ...And Justice for All, um petardo
sonoro, o mais bem trabalhado álbum do Metallica. Foi o primeiro passo para
despertar o interesse pelos outros discos da banda.
...And Justice For All - um Trash Metal bem trabalhado |
Alguns
meses depois, começava o dilema: Iron Maiden ou Metallica? Qual a mais completa
do Mundo Heavy? Confesso que naqueles primeiros anos de incursão ao metal a
banda dos EUA me despertava mais interesse, fato que foi mudando com o tempo.
A
minha relação de fã número 1 do Metallica começou a mudar no segundo semestre
de 1991. Depois de longos três anos sem lançar um álbum de estúdio (o último
havia sido o fantástico ...And Justice for All) a banda entrou em estúdio para
compor um novo trabalho. A nossa expectativa, de fãs “quase” incondicionais do
Metallica, era imensa! Líamos com afinco cada reportagem que saía nas melhores
revistas de Heavy Metal da época, com destaque para a Rock Brigade.
Capas
com o Metallica, reportagens com o Metallica, pequenas matérias com Metallica,
enfim, o mundo musical acompanhava com imensa ansiedade o retorno da banda. As
revistas eram a nossa internet! Só com elas ficávamos a par de tudo que
acontecia com o rock. Até que chegou uma edição que anunciava o lançamento do
NOVO ÁLBUM da banda! Melhor, havia uma resenha sobre o disco. Apesar dela não
ter sido das mais elogiosas para com o novo trabalho da banda, éramos fãs, e
fãs possuem um pé atrás com crítico musical. Sempre líamos as críticas dos
álbuns, mas quando elas eram ásperas com nossas bandas preferidas logo
sentenciávamos: “Coisa de músico frustrado!”; “Quanta bobagem!”... Mas no fundo
aquelas palavras já haviam gerado certo pavor nas nossas cabeças.
E se
fosse verdade? E se o álbum realmente trouxesse um Metallica mais pop? Já o
nosso lado otimista celebrava: “Que nada! Metallica é a maior banda de Trash do
Mundo! Como Hetfield E Ulrich fariam algo pop? Impossível!”. Mas o fato,
naquela ocasião, escrito pelas mãos impiedosas de um crítico musical, era tão potente
como uma Napalm! A banda havia composto uma balada! Não uma balada como “One”,
composta no disco anterior, que começava calma e acabava como um trem
descarrilhado! Agora seria uma verdadeira balada. Dessas que as rádios FMs
adoram passar de hora em hora. Seria o princípio do fim? Não sabíamos. Apenas
tínhamos receio de que isso pudesse se confirmar. Sobre tal possibilidade
conversávamos seguidamente.
Por
alguns momentos tentávamos nos concentrar somente no Metallica concreto. O
Metallica que orgulhava todo o fã de som pesado e que influenciou a criação de
milhares de bandas pelo mundo. Enfim, não adiantava pensar sobre as palavras
publicadas pela Rock Brigade. A única solução era esperar o novo disco do
Metallica chegar nas lojas de Rio Grande.
Após
longas semanas de agonia o esperado álbum, com sua conhecida capa preta,
finalmente havia chegado!
Sucesso de vendas e fracasso para os fãs |
Ainda
me lembro daquele dia como se fosse hoje. Manhã de primavera e lá estava eu
indo em direção ao calçadão de Rio Grande. Antigamente havia uma loja
especializada em discos chamada Pop Disc, situada exatamente onde hoje fica a
Renner. Ela já não existia mais e, buscando uma alternativa, tínhamos a Trekos
(casa comercial que também tinha na vizinha Pelotas). Então, por volta das 11 horas
da manhã de um belo dia de sol, lá fui eu diretamente para a Trekos comprar o
novo e esperado disco do Metallica. Não pense você que eu fui no escuro.
Roqueiro (ou admirador do estilo) que se prezava tinha que conhecer os
vendedores de discos de cada loja. Caso não conhecesse, pelo menos perguntava
quando seu disco preferido iria chegar. Isso ajudava a conter a ansiedade.
Chegando
lá vou direto à estante de discos de metal e o vejo à minha espera! Estava em
primeiro da fila, com a sua cor preta envolta pelo plástico característico dos
vinis. Óbvio que mais algumas cópias devem ter chegado para o estoque, mas para
mim ele era o único! Minha missão era resgatá-lo e escutá-lo o quanto antes.
Era o momento de desmentir algumas calúnias ditas por pseudo-críticos musicais.
Vou
direto para casa e, como um ritual inca de adoração aos deuses, coloco-o em
toca-discos e espero o primeiro acorde... Os sons iniciais cantados pela agulha
de diamante (assim chamavam) não me decepcionaram. Pelo contrário, estava
gostando e esperando confiante o desenrolar da primeira música. Mas quando
James Hetfield começou a cantar sua primeira estrofe uma guilhotina da Revolução
Francesa caiu sobre meu pescoço! Juro! O Metallica quase morreu para mim
naquele momento! Mas não, a minha teimosia o fez aguentar mais um pouco. A
extrema-unção chegou com a balada “The Unforgiven”. Que p* era aquela? Pensei.
“Isso não é Metallica!”, bradei. Afinal, quem era aquele cara cantando
meladamente: “”What I’ve felt, what I’ve Knowm, Never shined through in what
I’ve showm...”?Tamanha era a surpresa que a culpa primeiramente caiu para Kirk
Hammet... Depois descobrimos que era realmente James Hetfield. Sim, ele era
capaz de cantar de forma palha. Porém, a confirmação da morte chegou com a
“Nothing Else Matters”, mais precisamente com o seu acorde final (pois até ele
chegar, eu fiquei esperando uma nova “One”, começando calma e terminando com
toda a força). Aquilo era um ultraje para nós, amantes do feeling e da força
que sempre caracterizou o Thrash Metal. Foi como se eu tivesse, pela segunda
vez, tido conhecimento que Papai Noel era um simples velhinho capitalista! Ou
seja, o Heavy Metal também não estava imune aos interesses do show business.
Foi
difícil digerir tudo tão rápido. Rapidamente me desfiz daquele álbum duplo,
vendendo para um sebo que se localizava na Rua Zalony. Aquele Metallica não era
digno de fazer parte de minha coleção, eu pensava.
O
meu luto pelo Metallica foi tortuoso, longo, quase interminável! Um dos piores
sintomas de sua morte foi quando vários amigos, que nunca sequer haviam
escutado a banda (antes desse disco achavam que Metallica era somente um tipo
de pintura de carro) começaram a virar fãs incondicionais. Pulavam do rock
nacional para o Metallica. Do Guns n’ Roses ao Metallica. Da Madonna ao
Metallica.
Foi
uma fase difícil para quem era fã xiita
e gostava do antigo Metallica. Todos os dias eu amaldiçoava Bob Rock, o
produtor que levou o Metallica ao fundo do poço.
O
pior ainda estava por vir. Os discos posteriores ao “Álbum Preto” foram ainda
piores. Uma sucessão de equívocos que afastava definitivamente os leais fãs da
banda, em troca de milhares de novos (fãs e dólares na conta), mas pouco leais, sujeitos às modas
musicais. Toda essa pobreza desembocou em crises musicais e de relacionamento
dentro da própria banda (ver dvd Some Kide of Monster, uma espécie de “terapia
pública”)
Fortes
indícios me levam a pensar que o produtor Bob Rock foi a Yoko do Metallica. Não
conseguiu de fato separá-los, mas acabou com o espírito original da banda.
Desiludiu profundamente seus fãs junto com um Metallica conivente.
A morte magnética trouxe o renascimento! |
Entretanto,
quase duas décadas depois de sua primeira morte (bandas são como gatos?),
quando eu já havia desistido de escutar qualquer coisa lançada pelo grupo, o
Metallica renasce com o disco Death Magnetic, no ano de 2008. Sou testemunha
ocular e auditiva dessa ressurreição! Estive no show que eles fizeram no ano de
2010 em Porto Alegre e posso afirmar: o Metallica voltou! O meu prazer em
voltar a escutar Metallica está mais vivo do que nunca. Está renovado, assim
como a banda!
É
esse “novo” Metallica que tocará no Rock in Rio 2013!
É
esse “novo” Metallica que me reconquistou!
Palmas
para o produtor Rick Rubin...
* Palavras escritas ao som de Monster (2012), do Kiss.