sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pequenas reflexões sobre a 11º Mostra de Produção Universitária


                           


Na primeira semana de dezembro foi realizada a 11º Mostra de Produção Universitária – MPU, um espaço anual FUNDAMENTAL que a FURG abre para os alunos apresentarem suas pesquisas e projetos de extensão.  Como todo o evento que passa por um crescimento proeminente, seria interessante a promoção de uma série de reflexões por parte de seus organizadores e comunidade acadêmica em geral. Vejamos alguns pontos que deveriam passar pela discussão:

1) Formação da banca avaliadora: problemas graves rondam esse quesito. Exemplo, arqueólogos avaliando trabalhos da área de História, historiadores avaliando trabalhos de Arqueologia. Na MPU de 2011 fui obrigado a avaliar trabalhos envolvendo queimada de árvores, sementes, entre outros, através do uso de fornos com graus diferentes de temperatura. Como ter uma noção mais aproximada, do trabalho de pesquisa dos alunos, quando minha experiência com forno e queimada se limita às pizzas pré-prontas?

2)    Seleção dos alunos em sua área: alguns alunos encontravam-se deslocados em suas salas. Trabalhos mais voltados à biologia na área de História, projetos de pesquisa sendo apresentados ao lado de projetos de extensão, etc.

3)    Essência da Mostra: afinal, a MPU é para exibir importantes trabalhos científicos em andamento ou, pelo contrário, simples trabalhos que discentes apresentaram em alguma disciplina ao longo do curso?

4)    Conscientização: muitos professores devem entender que a MPU é espaço para os alunos, não para os docentes travarem sua eterna luta de egos. Alguns utilizam a MPU para demonstrar todo o seu conhecimento (ou desconhecimento) sobre o assunto apresentado pelo aluno. Enfim, pegam o “microfone” e se esquecem de que ali eles não são os protagonistas.

5)    Essência da Mostra (2): POR QUE PREMIAR UM TRABALHO a cada sessão de apresentação? Por que promover a concorrência entre alunos, quando o mais importante seria gerar um ambiente de efervescência do conhecimento e de experiências entre os discentes ainda em formação? Afinal, não é contra a brutal e desenfreada concorrência, seja ela social ou econômica, que, nós universitários e professores, tanto lutamos? Confesso que me sinto constrangido na hora de anunciar um “vencedor”.

domingo, 11 de novembro de 2012

A morte e o renascimento do Metallica


Em outubro passado a organização do Rock in Rio 2013 anunciou uma “partícula” do cast que fará a alegria dos presentes na Cidade do Rock. Partícula nada desprezível, tendo em conta que nela estão presentes dois grandes nomes do Metal Clássico: Iron Maiden e Metallica.

Gostaria de escrever um pouco da minha relação com a segunda banda, os mestres do Trash Metal (pelo menos naquela época dava para enquadrá-los assim), a norte-americana Metallica. Meu primeiro contato com essa banda aconteceu por volta de 1988. Um amigo de uma das minhas irmãs havia emprestado dois vinis, um do The Cult, chamado Electric (fantástico rock à la ACDC), e o maravilhoso ...And Justice for All, um petardo sonoro, o mais bem trabalhado álbum do Metallica. Foi o primeiro passo para despertar o interesse pelos outros discos da banda.


...And Justice For All - um Trash Metal bem trabalhado


Alguns meses depois, começava o dilema: Iron Maiden ou Metallica? Qual a mais completa do Mundo Heavy? Confesso que naqueles primeiros anos de incursão ao metal a banda dos EUA me despertava mais interesse, fato que foi mudando com o tempo.

A minha relação de fã número 1 do Metallica começou a mudar no segundo semestre de 1991. Depois de longos três anos sem lançar um álbum de estúdio (o último havia sido o fantástico ...And Justice for All) a banda entrou em estúdio para compor um novo trabalho. A nossa expectativa, de fãs “quase” incondicionais do Metallica, era imensa! Líamos com afinco cada reportagem que saía nas melhores revistas de Heavy Metal da época, com destaque para a Rock Brigade.

Capas com o Metallica, reportagens com o Metallica, pequenas matérias com Metallica, enfim, o mundo musical acompanhava com imensa ansiedade o retorno da banda. As revistas eram a nossa internet! Só com elas ficávamos a par de tudo que acontecia com o rock. Até que chegou uma edição que anunciava o lançamento do NOVO ÁLBUM da banda! Melhor, havia uma resenha sobre o disco. Apesar dela não ter sido das mais elogiosas para com o novo trabalho da banda, éramos fãs, e fãs possuem um pé atrás com crítico musical. Sempre líamos as críticas dos álbuns, mas quando elas eram ásperas com nossas bandas preferidas logo sentenciávamos: “Coisa de músico frustrado!”; “Quanta bobagem!”... Mas no fundo aquelas palavras já haviam gerado certo pavor nas nossas cabeças.

E se fosse verdade? E se o álbum realmente trouxesse um Metallica mais pop? Já o nosso lado otimista celebrava: “Que nada! Metallica é a maior banda de Trash do Mundo! Como Hetfield E Ulrich fariam algo pop? Impossível!”. Mas o fato, naquela ocasião, escrito pelas mãos impiedosas de um crítico musical, era tão potente como uma Napalm! A banda havia composto uma balada! Não uma balada como “One”, composta no disco anterior, que começava calma e acabava como um trem descarrilhado! Agora seria uma verdadeira balada. Dessas que as rádios FMs adoram passar de hora em hora. Seria o princípio do fim? Não sabíamos. Apenas tínhamos receio de que isso pudesse se confirmar. Sobre tal possibilidade conversávamos seguidamente.

Por alguns momentos tentávamos nos concentrar somente no Metallica concreto. O Metallica que orgulhava todo o fã de som pesado e que influenciou a criação de milhares de bandas pelo mundo. Enfim, não adiantava pensar sobre as palavras publicadas pela Rock Brigade. A única solução era esperar o novo disco do Metallica chegar nas lojas de Rio Grande.
Após longas semanas de agonia o esperado álbum, com sua conhecida capa preta, finalmente havia chegado!


Sucesso de vendas e fracasso para os fãs


Ainda me lembro daquele dia como se fosse hoje. Manhã de primavera e lá estava eu indo em direção ao calçadão de Rio Grande. Antigamente havia uma loja especializada em discos chamada Pop Disc, situada exatamente onde hoje fica a Renner. Ela já não existia mais e, buscando uma alternativa, tínhamos a Trekos (casa comercial que também tinha na vizinha Pelotas). Então, por volta das 11 horas da manhã de um belo dia de sol, lá fui eu diretamente para a Trekos comprar o novo e esperado disco do Metallica. Não pense você que eu fui no escuro. Roqueiro (ou admirador do estilo) que se prezava tinha que conhecer os vendedores de discos de cada loja. Caso não conhecesse, pelo menos perguntava quando seu disco preferido iria chegar. Isso ajudava a conter a ansiedade.

Chegando lá vou direto à estante de discos de metal e o vejo à minha espera! Estava em primeiro da fila, com a sua cor preta envolta pelo plástico característico dos vinis. Óbvio que mais algumas cópias devem ter chegado para o estoque, mas para mim ele era o único! Minha missão era resgatá-lo e escutá-lo o quanto antes. Era o momento de desmentir algumas calúnias ditas por pseudo-críticos musicais.

Vou direto para casa e, como um ritual inca de adoração aos deuses, coloco-o em toca-discos e espero o primeiro acorde... Os sons iniciais cantados pela agulha de diamante (assim chamavam) não me decepcionaram. Pelo contrário, estava gostando e esperando confiante o desenrolar da primeira música. Mas quando James Hetfield começou a cantar sua primeira estrofe uma guilhotina da Revolução Francesa caiu sobre meu pescoço! Juro! O Metallica quase morreu para mim naquele momento! Mas não, a minha teimosia o fez aguentar mais um pouco. A extrema-unção chegou com a balada “The Unforgiven”. Que p* era aquela? Pensei. “Isso não é Metallica!”, bradei. Afinal, quem era aquele cara cantando meladamente: “”What I’ve felt, what I’ve Knowm, Never shined through in what I’ve showm...”?Tamanha era a surpresa que a culpa primeiramente caiu para Kirk Hammet... Depois descobrimos que era realmente James Hetfield. Sim, ele era capaz de cantar de forma palha. Porém, a confirmação da morte chegou com a “Nothing Else Matters”, mais precisamente com o seu acorde final (pois até ele chegar, eu fiquei esperando uma nova “One”, começando calma e terminando com toda a força). Aquilo era um ultraje para nós, amantes do feeling e da força que sempre caracterizou o Thrash Metal. Foi como se eu tivesse, pela segunda vez, tido conhecimento que Papai Noel era um simples velhinho capitalista! Ou seja, o Heavy Metal também não estava imune aos interesses do show business.

Foi difícil digerir tudo tão rápido. Rapidamente me desfiz daquele álbum duplo, vendendo para um sebo que se localizava na Rua Zalony. Aquele Metallica não era digno de fazer parte de minha coleção, eu pensava.

O meu luto pelo Metallica foi tortuoso, longo, quase interminável! Um dos piores sintomas de sua morte foi quando vários amigos, que nunca sequer haviam escutado a banda (antes desse disco achavam que Metallica era somente um tipo de pintura de carro) começaram a virar fãs incondicionais. Pulavam do rock nacional para o Metallica. Do Guns n’ Roses ao Metallica. Da Madonna ao Metallica.

Foi uma fase difícil para quem era xiita e gostava do antigo Metallica. Todos os dias eu amaldiçoava Bob Rock, o produtor que levou o Metallica ao fundo do poço.

O pior ainda estava por vir. Os discos posteriores ao “Álbum Preto” foram ainda piores. Uma sucessão de equívocos que afastava definitivamente os leais fãs da banda, em troca de milhares de novos (fãs e dólares na conta), mas pouco leais, sujeitos às modas musicais. Toda essa pobreza desembocou em crises musicais e de relacionamento dentro da própria banda (ver dvd Some Kide of Monster, uma espécie de “terapia pública”)

Fortes indícios me levam a pensar que o produtor Bob Rock foi a Yoko do Metallica. Não conseguiu de fato separá-los, mas acabou com o espírito original da banda. Desiludiu profundamente seus fãs junto com um Metallica conivente.


A morte magnética trouxe o renascimento!


Entretanto, quase duas décadas depois de sua primeira morte (bandas são como gatos?), quando eu já havia desistido de escutar qualquer coisa lançada pelo grupo, o Metallica renasce com o disco Death Magnetic, no ano de 2008. Sou testemunha ocular e auditiva dessa ressurreição! Estive no show que eles fizeram no ano de 2010 em Porto Alegre e posso afirmar: o Metallica voltou! O meu prazer em voltar a escutar Metallica está mais vivo do que nunca. Está renovado, assim como a banda!

É esse “novo” Metallica que tocará no Rock in Rio 2013!

É esse “novo” Metallica que me reconquistou!

Palmas para o produtor Rick Rubin...

* Palavras escritas ao som de Monster (2012), do Kiss.



domingo, 28 de outubro de 2012

Segredos, dúvidas e devaneios no cais IV




- Nas últimas duas semanas os Estados Unidos esteve fixado à televisão assistindo aos debates presidenciais, ainda mais influenciados por um possível emparelhamento na disputa pelos votos. Temendo mais um mandato fora da Casa Branca, a ala mais conservadora do Partido Republicano passou a injetar mais fôlego (financeiro e político) no candidato Mitt Romney, uma espécie “bushiana” mais familiar e de acordo com os padrões de reacionários norte-americanos. É bastante comum ouvirmos que os dois partidos, o Republicano e o Democrata, são praticamente iguais, que pouco difere na prática política. Conceito muito simplista e despido de qualquer senso crítico! O discurso é sensivelmente discordante. Aproximam-se em alguns pontos, é verdade, mas logo surgem significativas discordâncias. Discordâncias que podem determinar não só o futuro daquele país, mas de todo as regiões que ainda permanecem vítimas do imperialismo norte-americano. Certamente Obama não significa o fim desse exercício predatório, mas Mitt Romney simboliza a sua retomada, o fortalecimento dessa prática.


Nem tão iguais assim


- Já que o assunto é eleição, olhemos para a que está acontecendo na vizinha Cidade de Pelotas. Não dá para deixar de lado a provável (e absurda!) vitória de Eduardo Leite. Ela nos mostra o quanto ainda somos ingênuos politicamente. O quanto o velho ainda é capaz de enganar com a máscara alegre e sedutora do “novo”. Porém, esse não será a única razão da possível continuidade da administração pelotense. O PT de Pelotas (e isso também serve para Rio Grande) precisa urgentemente construir novas lideranças políticas, sob o perigo de perder votos populares para outros candidatos “esquerdistas” que surgem e desaparecem como um meteoro. Por outro lado, as alianças do Segundo Turno pelotense refletem o estágio da organização das esquerdas no Brasil: meramente juvenil! É claro quando vemos o egoísmo partidário, burro e inconsequente, quando assistimos o candidato do PSOL, Jurandir Silva, não apoiar Marroni nessa reta final. Essa posição “murista” comprova que, em matéria de arranjo contra o adversário comum, a esquerda brasileira (ou os que se dizem a ela pertencer) ainda tem muito o que aprender com os partidos mais reacionários. O PSOL não consegue ver diferença entre Marroni e Eduardo Leite. Precisa seriamente de uns óculos ou conhecer a recente História Brasileira...


- Queria muito saber até onde vai o direito do cidadão frente aos parquímetros. Qual a lei que obriga o motorista a TER moedas para pagar o tempo de estacionamento de seu carro. Obrigar a pagar é uma coisa, TER moedas é outra! Na hora de estacionar há somente duas opções: ter moedas suficientes para o pagamento ou, ainda, rezar para que o fiscal esteja no ponto para trocar suas cédulas. Esqueci a terceira: estacionar e torcer para que o fiscal de sua rua não exista. Algo comum de acontecer, mas difícil de se ter a certeza dessa condição.


Consumo de berço


- Na última sexta-feira (dia 26) a Microsoft lançou no mercado o seu novo sistema operacional batizado de Windows 8. Até aí tudo bem, isso é bastante normal para uma empresa que busca aperfeiçoar e manter seus compradores, mas o que estranha muito é a inexplicável necessidade que alguns consumidores sentem frente a esses lançamentos. Lojas em todo o mundo foram abertas às 24:00 horas, formando filas intermináveis de consumidores sedentos pelo novo produto. Qual a razão de se trocar uma noite de sono por um produto que certamente estará lá, ao alcance de todos, em qualquer loja de informática na manhã seguinte? Qual o sentido de ser o primeiro, segundo ou terceiro comprador de um produto que daqui a 6 ou 7 anos  se tornará ultrapassado nesse mesmo mercado?
Essa fanática ânsia que o consumidor do Windows 8 demonstrou nessa última sexta-feira só é mais um sintoma de como o planeta está profundamente debilitado.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A mais bela derrota da eleição gaúcha (Luiz Cláudio Cunha)

Abaixo reproduzo NA ÍNTEGRA um belo artigo publicado pelo site SUL 21, sob a assinatura de Luiz Cláudio Cunha.


A política regalou em 2012 mais um superlativo à coleção de máximas de Rio Grande: a mais bela derrota das eleições municipais de 7 de outubro.
O surpreendente revés de Fábio Branco, prefeito candidato à reeleição pelo PMDB, traduz significados mais extraordinários e inspiradores do que a inesperada vitória de seu concorrente, Alexandre Lindenmeyer, do PT. Quando as urnas foram abertas, apenas 3.215 eleitores da cidade haviam votado em branco entre os 116.644 votos válidos. Mas, somando a votação do vitorioso aos dos outros três candidatos nanicos não eleitos, a conta final mostra que 57% do eleitorado decidiu não votar em Branco, o Fábio.
Somados aos 5,67% de votos não válidos (brancos e nulos), mais de 62,5% dos eleitores de Rio Grande rejeitaram o voto em Branco. É sempre bom lembrar que, na base dessa sanção popular, pode estar um filho ilustre e uma figura superlativa da cidade, que sobrevoa como um fantasma a história do país e a biografia do prefeito: o general Golbery do Couto e Silva (1911-1987).


Branco, o prefeito, e Golbery, o general: o branco na história e nas urnas. | Foto: riogrande.rs.gov.br
 
 
Um ano antes da eleição, o prefeito ousou usar eleitoralmente a imagem do general que foi figura chave na queda do presidente João Goulart e na conspiração do golpe de 1964, sem considerar a afronta que cometia à memória dos brasileiros — aí incluídos os seus conterrâneos da cidade e do Estado.


rio grande golbery
Prefeito Fabio Branco e major lançam homenagem a Golbery | Foto: Fernanda Miki/Prefeitura de Rio Grande




Era agosto de 2011, o mesmo mês em que o Rio Grande do Sul lembrava com orgulho o cinquentenário da resistência do povo gaúcho na Campanha da Legalidade de 1961, que garantiu a posse de Jango contra o manifesto golpista escrito pelo coronel Golbery e lido pelos ministros militares. Insensível à história dos gaúchos, Branco atravessou descuidado aqueles dias de festa do povo gaúcho para plantar em praça pública um busto em homenagem ao general Golbery que, entre outras façanhas, gerou o SNI, criatura do regime onisciente que ele tardiamente deserdou como “monstro”.

O exagero na terra dos superlativos sepultou precocemente as pretensões eleitorais do prefeito, que tinha a obrigação de honrar a memória de sua gente e de respeitar a história de sua própria cidade. Por alguma razão, Branco desdenhou o que era e ignorou onde estava.

A cidade gaúcha de 200 mil habitantes, a 317 km de Porto Alegre, já tem o segundo porto mais movimentado de cargas do país (atrás de Santos) e é o centro mais rico da empobrecida Metade Sul do Estado. Sua refinaria e o dinamismo do porto, onde escoa boa parte da produção agropecuário da região, dão a Rio Grande o 4º maior PIB estadual, atrás apenas da capital, de Canoas e de Caxias do Sul.

A situação ainda deve melhorar com a implantação do Polo Naval, que inclui o investimento de R$14 bilhões na construção de diques, estaleiros, navios e plataformas marítimas para a exploração de petróleo. Trinta empresas estão instaladas na área, sete em construção e outras 22 em projeto, gerando cerca de 40 mil empregos indiretos até 2017 nos setores de fertilizantes, logística, alimentos, madeira, química e metalurgia.
Só a Petrobrás emprega ali seis mil operários para construir três grandes plataformas - uma delas, a P-55, considerada pela empresa como a maior plataforma semissubmersível já construída no país. Um novo cais de 4580 metros vai ancorar ali o maior estaleiro naval do continente, capaz de construir quatro plataformas simultaneamente. Tudo isso fará a população dobrar para 450 mil habitantes em 2020 e deve quadruplicar o orçamento anual do município em R$ 800 milhões.

Rio Grande, com tudo isso, não poderia ficar de fora da bíblia dos superlativos, o livro dos recordes, o Guinness Book, que lhe conferiu a duvidosa glória de ter a mais extensa praia do mundo: Cassino, uma ventosa franja de areia e mar aberto, frio, feio e cinzento que se prolonga por 254 tediosos quilômetros e linha reta até Chuí, o extremo sul do Brasil. Há quem goste.

O nome vem dos tempos feéricos em que o jogo era permitido no Brasil e dava emprego a 40 mil pessoas nos salões de jogos de 70 cassinos espalhados pelo país. Um dos salões estava no antigo hotel Stella Maris, o local mais frequentado do balneário mais antigo do litoral brasileiro, inaugurado em Rio Grande em 1890 e que deu o nome à praia do Cassino, distante apenas 18 km do porto. A decadência do balneário começou em 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra assinou o decreto que proibiu as roletas e o jogo.

O marechal mandava no país, mas quem mandava nele era Carmela Teles Leite Dutra, sua mulher. ‘Dona Santinha’, como gostava de ser chamada, era uma rotunda e pia senhora católica, que segundo a lenda mudou a história em 1946, impondo ao marido presidente as leis que tornaram ilegais no país os cassinos e o Partido Comunista Brasileiro, dois pecados mortais que sua fé extremosa não admitia.

Dona Santinha, a patroa, e o presidente Dutra. | Foto: Revista Life

 
Exatamente meio século depois, surgiu no pano verde do poder em Rio Grande um sobrenome ainda mais superlativo do que o santo apelido da monacal patroa de Dutra: os Branco, a dinastia política mais duradoura da história recente do Rio Grande do Sul. Nos últimos 16 anos, desde 1996, havia sempre um Branco na prefeitura da cidade, a partir da democracia restaurada pela Constituinte de 1988. Nas duas décadas anteriores de ditadura, sob a mão dura do poder verde-oliva do AI-5, o povo foi banido das urnas pelas cartas marcadas dos militares, que transformaram Rio Grande em ‘área de segurança nacional’. Prefeito naqueles tempos, graças ao pretexto do porto superlativo, só era nomeado pelos quartéis.

O primeiro Branco da dinastia riograndina surgiu em 1996, quando 33 mil votos levaram Wilson Mattos Branco à prefeitura. Perdeu a reeleição em 2000, vítima de um AVC no final do mandato. Foi substituído às pressas pelo assessor e sobrinho, um jovem de 29 anos chamado Fábio Branco, eleito com 51 mil votos e o braço amigo de um poderoso padrinho político, o deputado federal Eliseu Padilha. Em 2004, o bastão da família foi repassado para Janir Branco, filho de Wilson e primo de Fábio, eleito prefeito com 83 mil votos. Na eleição seguinte, 2008, Fábio voltou à prefeitura, a bordo de 60 mil votos. Se tivesse sido reeleito, agora em 2012, Fábio completaria duas décadas de Branco na prefeitura da cidade — o tempo de poder que PSDB e PT, em épocas distintas, sonharam viver no Palácio do Planalto.


Alexandre Lindenmeyer: uma vitória descoberta na véspera | Foto: Flick

 
O longevo projeto dos Branco foi interrompido pela inesperada vitória do advogado Alexandre Lindenmeyer, ex-vereador e atual deputado estadual pelo PT. Foi uma revanche pessoal, já que Alexandre tinha perdido a prefeitura justamente para Fábio em 2000. A derrota parecia que iria se repetir agora, já que Fábio Branco, além de liderar um guarda-chuva de 15 legendas na sua coligação, vencia em todas as pesquisas com boa folga. Três dias antes da eleição de 7 de outubro, o semanário Folha Gaúcha dava oito pontos de vantagem ao candidato do PMDB contra o do PT: Branco tinha 45,8% da preferência e Lindenmeyer, 37,9%.

Na véspera da eleição, acendeu o sinal amarelo: o jornal Agora publicou pesquisa do Instituto Studio indicando uma virada no eleitorado. Lindenmeyer ultrapassava Branco, com 38,1% contra 36%. Um número elevado de eleitores, 17%, mostrava indecisão na boca da urna, enquanto Branco aparecia com a maior taxa de rejeição, 20,2%.

Devia ser, em parte, alguma vindita do eleitor contra o desdém de Branco à opinião do cidadão comum e à historia como um todo. Negligência que atingiu seu ápice com a desastrada homenagem a Golbery, aliás uma ideia alheia que o jovem prefeito comprou sem reservas. Quem teve a iniciativa foi outro riograndino ilustre, igualmente polêmico: Ronald Levinsohn, dono no Rio de Janeiro do complexo Univercidade, com 35 mil alunos, e hoje próspero fazendeiro no Oeste da Bahia, onde já teve 400 mil hectares. Ficou tristemente famoso em 1983, envolvido num dos mais rumorosos escândalos financeiros do regime militar: a quebra do Grupo Delfin, a maior empresa de poupança privada do país, que tinha três milhões de depositantes espalhados em 83 agências país afora. Sofreu intervenção do Banco Central apesar do braço camarada do amigo e general Walter Pires, então ministro do Exército do Governo Figueiredo.

Levinsohn tinha outro amigo general: Golbery do Couto e Silva, nascido em Rio Grande como ele. Em 2009, dois anos antes do centenário de nascimento do general, Levinsohn ligou para um vereador do PMDB na cidade, Renato Albuquerque, e disparou:
— Renato, tu não acha que tá na hora de fazer uma homenagem para uma pessoa tão importante como o Golbery?
O vereador achou, e o prefeito embarcou na onda. Entre outras benfeitorias, lembraram que Golbery, chefe da Casa Civil de dois presidentes da ditadura (Geisel e Figueiredo), viabilizou os recursos para captar água do canal São Gonçalo, ajudou a federalizar a universidade local e transferiu o 5º Distrito Naval de Florianópolis para Rio Grande.
O chefe de gabinete do prefeito, Edes Cunha, com passagem pela ARENA, a legenda da ditadura, justificou a homenagem: “Golbery entendia a importância estratégica de Rio Grande para o Cone Sul. Dizia que a cidade era a vesícula dos mares”.


Ronald Levinsohn e Renato Albuquerque: a vesícula e o fígado

 A homenagem a Golbery era, também, um soco no fígado da história nacional. O benfeitor de Rio Grande, na verdade, era um malfeitor da democracia no Brasil, contra a qual conspirou desde os anos 1950. Depois de lutar contra o nazifascismo em 1944, na FEB enviada ao front italiano, o coronel Golbery virou o fio e começou sua carreira de conspirador. Carrega na sua folha funcional o raro privilégio de ter derrubado João Goulart duas vezes.

Em 1954, quando Jango era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, Golbery redigiu o manifesto de 82 coronéis e tenentes-coronéis que protestavam contra o aumento de 100% do salário mínimo. A conspiração levou à queda de Jango. Dez anos depois, em 1964, quando Jango era presidente, Golbery ajudou a montar a conspiração civil-militar que preparou o golpe durante os três anos anteriores, sob a camuflagem do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o IPES, que ele coordenava mobilizando 320 dos maiores empresários do país, de famílias tradicionais a poderosas corporações estrangeiras, articulados com os grandes grupos de mídia.


O general Golbery, Jango e Brizola: o cassador e a caça

Golbery perdeu em agosto de 1961, aos 50 anos de idade, quando a resistência do povo gaúcho na Legalidade, sob a liderança do governador Leonel Brizola e o peso do III Exército, prevaleceu sobre o ultimato dos ministros militares, que se opunham à posse do vice João Goulart na vaga aberta pela renúncia inesperada do ébrio Jânio Quadros.
O autor do manifesto golpista dos ministros militares era o ubíquo Golbery. O Rio Grande do Sul ainda festejava o cinquentenário dessa épica vitória democrática quando o desastrado prefeito Fábio Branco embarcou na homenagem intempestiva ao general que afrontou a vontade do povo gaúcho e desrespeitou a Constituição.

No dia 21 de agosto, centenário de nascimento do general, Branco presidiu cerimônia na praça Tamandaré, no centro da cidade, lançando a pedra fundamental de uma placa em homenagem a Golbery. O mimo foi doado pelo amigo e conterrâneo Levinsohn. A lei proposta pelo cordato vereador Renato Albuquerque tinha sido aprovada, sem alarde, pela minoria da Câmara de Vereadores, no ocaso de 2009. Só seis vereadores, menos da metade dos 13 integrantes da Câmara, votaram a favor, com dois votos contra.

Cinco estavam ausentes, entre eles o vereador Lindenmeyer, agora eleito prefeito. A lei nº 6.835 foi assinada na surdina dez dias depois pelo prefeito Fábio Branco, no dia 31 de dezembro, quando a cidade e o país, desatentos, só tinham ouvidos para o espocar das rolhas de champanha e os fogos de artifício da madrugada do réveillon.

Cobrado pela contradição histórica eternizada na praça entre o general de duas faces, simultaneamente benfeitor municipal e malfeitor nacional, o prefeito erigiu um dos mais majestosos monumentos à boçalidade política, dando uma resposta que ficará como marco pétreo à leviandade de todas as épocas:
 — Eu não quero fazer juízo sobre a ditadura de 1964. Eu nem era nascido… — respondeu o jovem de 40 anos. Parido no ano da graça de 1971, quando o país padecia sob o tacão de ferro e sangue do general Emílio Garrastazú Médici, seu conterrâneo gaúcho de Bagé, o prefeito Branco afrontava também a memória do próprio partido, o PMDB, herdeiro do MDB velho de guerra e do PTB de Jango e Brizola, as legendas e líderes mais perseguidos pelo regime confabulado por Golbery e seus comparsas durante os 21 anos de arbítrio.

Fábio Branco: pouca informação sobre o golpe | Foto: Prefeitura de Rio Grande


A heresia de Branco, confissão de um crime de lesa-memória, passou em branco pelas lideranças políticas do partido, do Estado e do país. Só não sobreviveu ao julgamento implacável do povo de Rio Grande. Nenhum deputado, nenhum senador do Congresso Nacional, fechado três vezes pelos atos de força do regime do malfeitor Golbery, se sentiu ofendido pela explícita leviandade do prefeito bobinho de Rio Grande. Nenhum líder histórico do velho MDB ou do novo PMDB, todos nascidos e crescidos bem antes das malfeitorias antidemocráticas de Golbery, contestou a frase boboca do prefeito Branco, que também não deve ter nenhum juízo sobre o nazismo e a escravidão, detalhes escabrosos da história ocorridos muito antes de seu nascimento.

É mais prudente ficar com a opinião de um jovem e corajoso historiador de Rio Grande, Chico Cougo, de tenros 25 anos, nascido em 1987, 16 anos depois do prefeito sem juízo, quando o país vivia sob a democracia adolescente da Nova República de José Sarney.

“A urna pune”, escreveu Cougo em seu blog (www.memoriasdochico.com), com o senso histórico que o Branco prefeito de Rio Grande ainda não conseguiu apreender em sua cachola. Foi ele que escancarou na Internet a incrível e desmiolada travessura do prefeito de sua terra, garantindo a ele lugar cativo na crônica política do país. Cougo observou outra coisa muito importante: Renato Albuquerque, o vereador que comprou a evanescente ideia de Levinsohn transformada em lei inconsequente por Branco, não conseguiu se reeleger. Teve míseros 1.152 votos — 717 votos menos do que as 1.869 assinaturas colhidas num manifesto na Internet protestando contra o monumento na praça a Golbery.
O surpreendente resultado das urnas não mostra apenas que Rio Grande não votou em Branco.
A eleição guarda uma lição ainda mais superlativa.
A boçalidade em política não passa em branco pela memória do eleitor.

Luiz Cláudio Cunha, jornalista, nunca vota em branco. 
 
 FONTE: http://sul21.com.br/jornal/2012/10/a-mais-bela-derrota-da-eleicao-gaucha/

sábado, 13 de outubro de 2012

Celebração ao bom e velho Rock


Minha temporada 2012 de shows já tem local e data para acabar: Estádio Passo D’Areia (ou Zequinha Stadium para as bandas estrangeiras), dia 14 de novembro. Após 13 longos anos, a clássica banda de rock Kiss retorna à Cidade de Porto Alegre para promover seu novíssimo álbum Monster. Na minha longa lista de “bandas que ainda quero ver” a nova-iorquina ainda marca a sua presença. Finalmente chegou a hora!

Tirem as crianças da sala!


Formada nos primeiros anos da década de 1970, o Kiss marcou época. Atitude rockeira, visual único, riffs saídos da guitarra “faisquenta” e agressiva de Acer Frehley, o vocal rasgado de Paul Stanley, Gene Simmons e sua sangrenta língua apontada para a sedenta plateia, hits capazes de fazer o seu avó bater um pezinho e sacodir a careca. Tudo faz parte de um dos maiores espetáculos que o rock já produziu em matéria de palco. Embora remodelado (a banda vem sem Ace Frehley e Peter Cris) o Kiss vem forte, com um disco bastante pesado e criativo.

Grande produção, performance e muito rock, esse é o show do Kiss


Se você está em dúvida, não pense duas vezes, vá! Tenho certeza que decepção é algo que não combina com um show do Kiss.
Aproveite essa oportunidade. Esse tipo de rock ESTÁ EM EXTINÇÃO!
Como diz em toda a abertura de show da banda: You wanted the best, you got the best!
Em novembro o melhor estará aos nossos olhos e ouvidos.
 * Palavras escritas ao som de Love Gun (1977), do Kiss.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A vitória da maioria


Observando o resultado eleitoral dois dias após a ocorrência do pleito, acredito que o receio frente à possibilidade de encararmos mais quatro anos de um “viciado” governo municipal havia nos tirado a capacidade de perceber o óbvio, o que já estava latente nas ruas, conversas de corredores, redes sociais e bairros: o reinado estava em seu fim. A mudança de postura apresentada pelo horário eleitoral do candidato do PMDB expressava um discurso mais agressivo, intercalando-o com a imagem idealizada de Fábio Branco e sua fantástica Rio Grande que ninguém conhecia, ninguém habitava. A laranja de ferro já não era suficiente para combater o avanço do candidato petista nas intenções de voto. Foram vários os sinais. Desde o aumento significativo de propagandas nos canteiros da Buarque de Macedo e Av. Presidente Vargas, o asfaltamento desenfreado de algumas ruas localizadas em bairros bastante populosos, flores sendo plantadas (como se cada semente conseguisse reverter um voto a seu favor), entre outros tantos.
De tudo isso, sem dúvida o mais claro sinal foi apresentado no último debate. Nas várias conversas que tive nos dois últimos dias, o programa é citado como um divisor de águas. Não o vejo dessa forma. Para mim o debate apenas ratificou a vitória do petista. Embora o patético final protagonizado pelo White possa ter revertido alguns votos para o candidato oposicionista, o encontro de quinta-feira passada apenas expôs um quadro que já era irreversível: os riograndinos desejavam mudança!


Momento bom para meditar no volante
Fonte Jornal Agora

Nos próximos meses os partidos derrotados tentarão buscar as razões de tamanha derrota. Derrota maiúscula, visto que a maioria da população optou por mudança. Penso em algumas delas, mas nenhuma se destaca mais do que a questão dos transportes. Os equívocos apresentados na gestão dessa área foram notórios! Desde bate-boca televisivo com autoridades estaduais tentando determinar quem seria o responsável pela nada maravilhosa obra viária na Junção, até a propagada integração, um mero engodo benéfico apenas para uma empresa de transporte coletivo. Em pouco mais de 2 anos a cidade saiu de um trânsito suportável para um dos maiores engarrafamentos já presenciados no município. Ganhamos uma Marginal Tietê em plena junção! Esse era o único “progresso” sentido diariamente pela população que necessitava utilizar tal trajeto. A construção de uma simples passarela não passava pela mente dos responsáveis, apenas pelas cabeças dos pedestres que conheciam de perto o perigo de se atravessar aquela faixa. O programa de integração dos transportes em nada melhorou o deslocamento dos trabalhadores. Pelo contrário, conseguiu bagunçar a rotina de muitos operários que, a partir de sua instalação, agora precisariam trocar de viatura em meio ao seu destino. Precisa-se falar da superlotação? O “aperto” só era suavizado quando os coletivos adentravam as ruas asfaltadas para a sua passagem...
Enfim, havia vários problemas na área da saúde (os postos estavam precários e com pouco horário de atendimento), iluminação pública (já tentou caminhar pelo Cassino no inverno¿ Não vale a avenida!), saneamento básico nos bairros mais simples da cidade, cultura (ah, mas foi instalada uma secretaria no último ano...), etc. No entanto, tais problemas já persistiam em mandatos anteriores e, nem por isso, determinou algum tipo de mudança no eleitorado. Algo sintomático da grande oposição ao trabalho realizado pela Secretaria de Transportes Municipal foi a própria derrota do penúltimo, e principal agente durante o último quadriênio, mandatário, o vereador Enoc. A derrota do candidato do PMDB passa inevitavelmente por esse caminho. Fábio Branco demorou muito (talvez por impotência mesmo) para promover mudanças em secretariados que vinham fazendo um papel bastante discutível nos últimos anos. Pagou caro!
No entanto, não creio que o ex-prefeito tenha jogado sua carreira política abaixo. Tem nome suficiente para conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2014.
Já o candidato Alexandre errou bastante no início de sua propaganda política. Não conseguiria vencer uma eleição desse porte sem apontar os principais erros cometidos pela atual administração. Foi corrigindo, aos poucos adicionando tais críticas em paralelo a propostas concretas. Promoveu um discurso que denunciava a megalomania da cidade perfeita vista no programa do adversário. Outro ponto importantíssimo foi a frequente associação PT-Polo Naval, fortalecida após a visita da Presidente Dilma à Cidade do Rio Grande e a vinculação de um vídeo onde o ex-presidente Lula pedia votos ao candidato Alexandre. Depois disso, até o mais desavisado não cairia na paternidade do investimento reivindicada pelo PMDB.

Tirando uma casquinha...

O segundo maior perdedor dessa eleição foi Júlio Martins (até porque os outros dois candidatos já haviam perdido a única coisa que lhes restavam, a vergonha). No momento de lançamento de sua candidatura ao paço municipal, o futuro parecia verde. Uma boa terceira colocação (demostrando que o PT sem o PCdoB não faria frente à situação), uma fácil eleição de Petter Botelho para a Câmara Municipal e, o melhor de tudo, Manuela D’Ávila Prefeita de Porto Alegre. Esse era o quadro que levaria a candidata comunista (não acredito que escrevi isso!) ao Governo do Estado em 2014. Um forte PCdoB estaria sendo gestado para os próximos anos, tendo em Júlio uma forte liderança local! Não aconteceu. Manuela juntou-se ao que há de mais reacionário na política regional, Ana Amélia Lemos, e perdeu seu púbere encanto. Qual jovem identificado com a esquerda carregaria orgulhosamente uma bandeira de uma candidata que vende uma imagem de renovação e, ao mesmo tempo, alia-se com a imagem cadavérica do Partido Progressista? Esse encanto durou bem pouco. Seria a morte precoce da candidata? Ainda é cedo para falar, mas o tombo foi grande, muito grande. Afinal, qual a ideologia partidária da Manuela? Difícil... Mas ainda bem que tem o PPS por aí...

O café da manhã é um bom momento para planejar a revolução proletária

Voltando ao Júlio, serão quadro longos anos sem um dos mais importantes vereadores do Rio Grande. A esquerda perde uma liderança na Casa, devendo essa ser repassada para Spotorno.
Que tenhamos uma boa transição e a presteza suficiente para cobrar e fiscalizar os próximos 4 anos de governo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A incrível arte de morrer pela boca


Mais uma vez a Cidade do Rio Grande parou em frente à tv para assistir a um debate eleitoral. Dessa vez o ingrediente principal talvez tenha sido a última pesquisa que apontou um emparelhamento muito significativo entre os dois principais candidatos à Prefeitura. O medo de perder o reinado e, por outro lado, a esperança de uma almejada renovação construiu um ambiente tenso, polarizado, com coadjuvantes com pouco apelo que pudesse acrescentar algo à disputa.
O debate começou morno, quase parando, com destaque para uma leve estocada do candidato Júlio Martins frente Fábio Branco. Uma pequena crítica que pouco acrescentou aos blocos seguintes. Falando em Júlio, o candidato do PCdoB buscou ao longo do programa apresentar uma imagem desligada da oposição. Uma representação contraditória à sua própria atuação sempre combativa na Câmara dos Vereadores (o capacho que o diga...). Um “novo Júlio Martins” nos foi apresentado. Uma versão do “Julinho Paz e Amor”! Sinceramente, prefiro o antigo...
 
A pizza tinha camomila?

Já o candidato do PTdoB...tão somente um mero subterfúgio na nossa frágil cultura democrática. Mais uma amostra do que o apego ao poder dinástico é capaz. Não vale gastar a tecla do meu pc.
Admito que me surpreendeu negativamente o candidato do Psol, Públio Ferrari. Ficou escancarada a falta de preparo frente às questões expostas pela mediadora e seus concorrentes. Seu desempenho pode ser sintetizado por sua (não)resposta à pergunta sobre “política para as mulheres”, feita por Alexandre. Apenas pensou em voz alta, como se tentasse entender o significado de “política para as mulheres”. Nesse momento, para Públio o tempo tornou-se sem fim! Uma tortura psicológica que o fez sentir-se um avestruz! O pior de tudo: não foi só o candidato do Psol que ficou constrangido com a situação, nós, do outro lado, sentimos na pele o que é vergonha alheia! Que tempinho demorado! Outro fato interessante do candidato foi a sua postura política. Seu partido é caracterizado por sua ideologia socialista, bem à esquerda do próprio PT. Suas lideranças pautam por discursos firmes, contundentes, baseados no anticapitalismo, antiimperialismo, contra a exploração das classes desfavorecidas, à maneira antiga dos primórdios do partido do ABC paulista. No entanto, Públio conseguiu não se posicionar no debate. Poderíamos facilmente colocá-lo sob a legenda do DEM, PSDB, PTB, PMDB, seja lá qual outro partido, que pouca contradição perceberíamos entre legenda e discurso tão grande foi sua falta de posicionamento político e ideológico. Sequer apresentou-se com postura oposicionista!
 
Avisaram ao  Públio?

Os principais candidatos foram bastante previsíveis! Alexandre Lindenmeyer continuou com sua postura pouco dinâmica em matéria de gestos, voz, expressão (certamente ele seria um prato cheio para os “personais trainers” de políticos, experientes em transformar apáticos candidatos em “showmans”). Claro que isso pouco importa para administrar uma prefeitura, mas em uma cidade como a nossa, onde a cultura política independente é quase nula (ou seria negativa?), a falta dessa dinâmica reverte muito voto ao adversário. Apesar disso, não há como equiparar a atuação de Alexandre com a de Fábio Branco. Podem ser promovidos 100, 200 debates que, possivelmente, teremos a superioridade do petista nos quesitos discursos, ideias, projetos, etc. A pergunta que surge é: mas isso realmente conta para o eleitor de Big River?
O debate se encaminhava para um final “xôxo”, um “empatizinho técnico”, sem sal ou emoção, apresentando uma vantagem quase imperceptível para Alexandre Lindenmeyer. Eis que surge a “grande” sacada de Fábio Branco: aproveitar as considerações finais e responder, ao petista, uma indagação feita no início do debate! Não haveria chance de réplica! “Perfeito!”, deve ter pensado o White naquele momento!
O desenrolar do seu derradeiro plano todos nós já conhecemos! Jogou-se como um kamikaze, só que ao invés de acertar o barco chocou-se da água.
O resultado final do seu genial plano veremos no domingo...
 

* Palavras escritas ao som deThe Wall(1979), de Pink Floyd.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Como mudar o Mundo?

Após décadas e décadas ensinando como se faz uma história extremamente crítica e de fácil leitura, o coração do historiador Eric Hobsbawm parou. Confesso que estou com imensa dificuldade de escrever algo desse intelectual que tanta presença marca nos cronogramas das disciplinas que ministro. Com estranha coincidência, nesse ano resolvi, pela primeira vez, promover em sala de aula o que denominei de “Seminário Hobsbawm”, um espaço para a leitura e o debate de vários capítulos de obras desse autor. O sentido dado à história por Eric é fundamental para a formação do aluno e futuro professor. Afasta-se de modismos acadêmicos tão propagandeados nas últimas décadas após o colapso do sistema “pseudo-comunista”. Enfim, uma obra inteira que veio, ficou e permanecerá para sempre como um marco para a historiografia que ainda pensa ser possível mudar o mundo através do conhecimento e da luta pelas desigualdades.
Infelizmente, hoje nas primeiras horas da manhã o mundo ficou mais BURRO e REACIONÁRIO...

Capacidade de explicar o Mundo e suas mudanças



Dedico a seguinte frase de Hobsbawm aos meus alunos:

É melhor ter jovens se sentindo de esquerda a jovens que sentem que a única coisa a fazer é conseguir um emprego na bolsa de valores. (ERIC HOBSBAWM)

domingo, 30 de setembro de 2012

Cena(s) eleitorais


Demorou, mas a primeira pesquisa eleitoral para Rio Grande saiu do armário! A proximidade dos percentuais de votos de Alexandre Lindenmeyer e Fábio Branco indica que o vencedor do pleito será decidido na última semana de campanha. Uma bomba de tensão para aqueles que imaginavam uma fácil reeleição da White Dynasty!


Pesquisa divulgada pelo SUL 21 no dia 28 de Setembro


Nos últimos dias o tom do horário eleitoral situacionista já denunciava o acirramento. Bruscamente havia deixado a “zona de conforto” (para utilizar a expressão da moda futebolística) para o ataque à campanha vermelha, abandonando de vez a postura de bom moço-positivo. Por outro lado, caso o candidato petista retorne para a casa com mais uma derrota no currículo, palmas devem ser dadas à oposição local, incapaz de aglutinar forças para dar um fim a esse largo período de reinado alicerçado em um espectro ainda lembrado e invocado por muitos rio-grandinos. Será que, finalmente, a frase do mestre Neil Young, "The king is gone but he's not forgotten", deixará de fazer sentido no ventoso feudo?


Xeque-mate?


Confesso que me preocupam as linhas adotadas nas atuais eleições municipais. O uso da religião para fins eleitorais já ultrapassou o limite do razoável. Há uma simbiose, uma protocooperação que inquieta o mais desavisado telespectador do horário eleitoral. Enquanto na maior cidade brasileira o candidato representante de uma igreja desponta de maneira incrível (a oposição parece ter errado o alvo), aqui em Rio Grande assiste-se uma nova forma de exposição da fé e da política. Em tempos passados ouviam-se boatos que religiosos estariam utilizando cultos a fim de angariarem votos para seus candidatos, hoje, no entanto, não há nem mesmo esse disfarçado distanciamento. O candidato-pastor grava o próprio programa solicitando “voto de fé” para si mesmo! Se naquela época a Regina Duarte tinha medo, o que diria agora... É de assustar!


"Eu juro defender o povo com base em Cristo e para Cristo!"



Chegando à Pelotas, nesse sábado dia 29, deparei-me com uma cena inédita nos meus longos anos eleitorais: uma “charreata” ou “carroceata” (o Prof. Pasquale que se dane!). E bota “carroceata” nisso! Ela era incrivelmente extensa! Senti-me esperando passar vários vagões da América Latina Logística. Creio que todas as carroças de Pelotas e região foram deslocadas para tal atividade. Parabéns aos organizadores! No entanto, o que mais impressionou foi a dicotomia entre aqueles que manejavam seus veículos, humildes trabalhadores pelotenses abandonados pelos poder público (todos eles com um ânimo semelhante a quem vai para a fila do banco no segundo dia do mês) e o candidato a prefeito propagandeado em suas bandeiras. Lá estava seu número, nome e sobrenome conhecido pelos quatro cantos do RS: 25, Matteo Chiarelli, herdeiro de um antigo representante das oligarquias locais e detentor de vários cargos políticos em plena ditadura. Juro que até procurei o candidato em alguma das carroças, mas não o encontrei...

Perguntinha:  Dessa vez haverá tiros em Santa Fé?

* Palavras escritas ao som de Pearl (1971), de Janis Joplin.