A
morte de Carlos Alexandre Azevedo, ocorrida no último sábado, reascende algumas
questões que são relegadas a segundo plano por nós brasileiros. O quase
silêncio protagonizado pela grande mídia nacional revolta, mas em nada surpreende.
Breves notas ou reportagens, logo retiradas dos destaques das principais fontes
jornalísticas, cumpriram com o ritual de informar pela simples obrigação de manter
a pauta atualizada. Quase nada foi dito, quase nada foi refletido sobre o
triste suicídio do jovem de 37 anos. O leitor que buscava uma informação mais
aprofundada sobre o assunto encontrou-a nos novos sites, construídos como
resistência ao cartel midiático brasileiro. Obviamente a denominada PIG não teve interesse algum em expor
assunto tão delicado, capaz de trazer à tona passado nada louvável dos mesmos
meios que, nos dias atuais, insistem em levantar a bandeira democrática do
debate (vide a visita da blogueira pop cubana).
No
entanto, se da grande mídia não podemos esperar grande coisa, o que dizer do
nosso meio acadêmico? Confesso que tal acontecimento me causou fortes reflexões
sobre o nosso papel dentro da sociedade. Estaríamos cumprindo com o que nos
é dever? Não estaríamos apenas assistindo (por vezes nem isso!!!) tudo acontecer,
com uma postura imensamente preguiçosa e desinteressada sobre um passado (ainda
presente) que nada mais é do que nossa própria razão de existir enquanto
formadores, construtores de consciência política, humana e cidadã? O quanto nós
estamos escrevendo, discutindo, DENUNCIANDO os problemas que estavam e estão
por aí, rondando como uma alma perdida, em busca de uma ação que possa trazer
um mínimo de justiça e memória para as pessoas que ainda sofrem com 64?
Todos
que militamos no meio acadêmico, sabemos que existem pesquisadores incansáveis
e muito competentes sobre o assunto. Eles estão espalhados pela USP, UFRJ,
UFRGS, UNISINOS, entre outras universidades, federais ou não, com trabalhos de
pesquisa e extensão, nadando contra uma atual corrente historiográfica que
insiste em relativizar o conhecimento histórico e despolitizar as discussões
acadêmicas. No entanto, esse belo trabalho enfrenta um imenso muro, criado
entre a academia e a sociedade. Muro esse que se torna quase intransponível em
se tratando do tema Ditadura Civil-Militar, considerado polêmico e perigoso
para o status quo daqueles que ainda rondam
no meio político e econômico no Brasil.
Já passou a hora das Ciências
Humanas, como um todo, combater essa condição anêmica da academia
frente ao assunto. Os absurdos produzidos pelo Golpe de 64 NÃO PODEM SER
COMBATIDOS SOMENTE PELOS ESPECIALISTAS NO ASSUNTO! Nós (aqui falo em historiadores)
estamos demonstrando uma terrível falta de bom senso, e de responsabilidade
histórico-social, ao delegar toda a ação de combate aos poucos intelectuais que
estudam o assunto. É uma covardia inominável deixarmos nossos colegas sozinhos
em uma luta tão desigual, onde os inimigos não são invisíveis, pelo contrário,
todos nós sabemos quem são e do que eles são capazes através dos meios político
e midiático.
Nossa
luta é contra o pior artifício utilizado pela mídia: o esquecimento. Se o deixarmos
tomar conta do nosso passado, seremos cúmplices de cada sofrimento imputado àquela
geração.
* Palavras escritas ao som de Atom Heart Mother (1970), do Pink Floyd.
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