sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Pré-adolescência da Democracia na América


Por alguns anos comemorávamos a paulatina maturidade democrática que construíamos em nosso continente, mas a face golpista voltou a dar as caras na América Latina. Eleito com aproximadamente 800 mil votos populares, em pleito nacional ocorrido no ano de 2008, Fernando Lugo nunca conseguiu conquistar grande parte da elite paraguaia. Já em época pré-eleitoral, seus opositores conservadores tentavam caracterizá-lo negativamente, incluindo boatos que o associavam a grupos de criminosos sequestradores, pintando-o como radical e companheiro de outros líderes vizinhos já extremamente linchados pela grande mídia internacional: Hugo Chávez e Evo Morales.
Sua plataforma de governo também não deixava dúvidas sobre quais as forças políticas que tentariam sabotar seu mandato. Enveredar no tema Reforma Agrária sempre foi (e por um bom tempo ainda tende a ser) jogar uma boa fagulha no eterno barril de pólvora sediado nas áreas rurais sul-americanas. Ter uma formação ligada à Teologia da Libertação (nutrindo admiração especial pelo brasileiro Leonardo Boff), pôr fim, com apoio de amplos setores populares, a mais de 60 anos de domínio dos conservadores colorados, tentar fazer frente aos grandes proprietários rurais e industriais, grande parte representados no parlamento nacional, também não colaboraram para uma maior arregimentação política em torno da figura do Presidente.


Comandando o país por décadas e décadas a fio, incluindo o nada admirável governo de Stroessner, as elites paraguaias resolveram dar um basta às suas curtas férias, interrompendo o mandato legítimo do apelidado “Bispo dos Pobres”. Tinha chegado a hora desses grupos terminarem com a brincadeira: “Basta, já brincaste demais! Devolve que a bola é minha...” Típica artimanha conservadora nada original na América Latina, tendo em vista que, poucos anos atrás, algo bem próximo disso chegou a ser conspirado, mas abortado na Venezuela.
E agora ficam as dúvidas: o que farão os governos vizinhos? O que fará o Brasil, mais especificamente? O que farão os Estados Unidos, o grande “baluarte da democracia” no Mundo? Haverá algum tipo de sanção econômica (uma das armas prediletas dos Yankees)?


Bom, da imprensa nacional não esperemos tanta coisa, visto que ao longo da grande cobertura midiática a que estamos assistindo a palavra golpe sequer passa perto. A palavra impeachment é mais bonita, democrática, legalista...



Como diria a obra do alemão Ramarque, Nada de novo no Front! A grande imprensa brasileira (PIG, my name is PIG) já havia escolhido o tipo de imagem a ser construída sobre Fernando Lugo bem antes do Golpe que acabamos de assistir. Sugiro um interessante estudo de Rafael Foletto sobre a questão. Escreve o autor: “dúvidas e incertezas compõem o mosaico pelo qual a mídia brasileira prefere apresentar o presidente do Paraguai, caracterizando-o como um governante populista, nacionalista, intempestivo, problemático. Ou ainda pior, explicitando estereótipos e preconceitos que povoam o imaginário brasileiro em relação ao Paraguai, como a falsificação. Acarretando na substituição das questões ideológicas e históricas do debate político pela encenação, bem como do conteúdo pela forma. Enfim, distanciando-se de uma abordagem contextualizada e ampla da complexidade do atual contexto do Paraguai.” (De bispo a presidente: construções histórico-midiáticas do presidente paraguaio Fernando Lugo nas revistas semanais brasileiras)
Enfim, que pré-adolescência mais demorada essa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário