terça-feira, 9 de outubro de 2012

A vitória da maioria


Observando o resultado eleitoral dois dias após a ocorrência do pleito, acredito que o receio frente à possibilidade de encararmos mais quatro anos de um “viciado” governo municipal havia nos tirado a capacidade de perceber o óbvio, o que já estava latente nas ruas, conversas de corredores, redes sociais e bairros: o reinado estava em seu fim. A mudança de postura apresentada pelo horário eleitoral do candidato do PMDB expressava um discurso mais agressivo, intercalando-o com a imagem idealizada de Fábio Branco e sua fantástica Rio Grande que ninguém conhecia, ninguém habitava. A laranja de ferro já não era suficiente para combater o avanço do candidato petista nas intenções de voto. Foram vários os sinais. Desde o aumento significativo de propagandas nos canteiros da Buarque de Macedo e Av. Presidente Vargas, o asfaltamento desenfreado de algumas ruas localizadas em bairros bastante populosos, flores sendo plantadas (como se cada semente conseguisse reverter um voto a seu favor), entre outros tantos.
De tudo isso, sem dúvida o mais claro sinal foi apresentado no último debate. Nas várias conversas que tive nos dois últimos dias, o programa é citado como um divisor de águas. Não o vejo dessa forma. Para mim o debate apenas ratificou a vitória do petista. Embora o patético final protagonizado pelo White possa ter revertido alguns votos para o candidato oposicionista, o encontro de quinta-feira passada apenas expôs um quadro que já era irreversível: os riograndinos desejavam mudança!


Momento bom para meditar no volante
Fonte Jornal Agora

Nos próximos meses os partidos derrotados tentarão buscar as razões de tamanha derrota. Derrota maiúscula, visto que a maioria da população optou por mudança. Penso em algumas delas, mas nenhuma se destaca mais do que a questão dos transportes. Os equívocos apresentados na gestão dessa área foram notórios! Desde bate-boca televisivo com autoridades estaduais tentando determinar quem seria o responsável pela nada maravilhosa obra viária na Junção, até a propagada integração, um mero engodo benéfico apenas para uma empresa de transporte coletivo. Em pouco mais de 2 anos a cidade saiu de um trânsito suportável para um dos maiores engarrafamentos já presenciados no município. Ganhamos uma Marginal Tietê em plena junção! Esse era o único “progresso” sentido diariamente pela população que necessitava utilizar tal trajeto. A construção de uma simples passarela não passava pela mente dos responsáveis, apenas pelas cabeças dos pedestres que conheciam de perto o perigo de se atravessar aquela faixa. O programa de integração dos transportes em nada melhorou o deslocamento dos trabalhadores. Pelo contrário, conseguiu bagunçar a rotina de muitos operários que, a partir de sua instalação, agora precisariam trocar de viatura em meio ao seu destino. Precisa-se falar da superlotação? O “aperto” só era suavizado quando os coletivos adentravam as ruas asfaltadas para a sua passagem...
Enfim, havia vários problemas na área da saúde (os postos estavam precários e com pouco horário de atendimento), iluminação pública (já tentou caminhar pelo Cassino no inverno¿ Não vale a avenida!), saneamento básico nos bairros mais simples da cidade, cultura (ah, mas foi instalada uma secretaria no último ano...), etc. No entanto, tais problemas já persistiam em mandatos anteriores e, nem por isso, determinou algum tipo de mudança no eleitorado. Algo sintomático da grande oposição ao trabalho realizado pela Secretaria de Transportes Municipal foi a própria derrota do penúltimo, e principal agente durante o último quadriênio, mandatário, o vereador Enoc. A derrota do candidato do PMDB passa inevitavelmente por esse caminho. Fábio Branco demorou muito (talvez por impotência mesmo) para promover mudanças em secretariados que vinham fazendo um papel bastante discutível nos últimos anos. Pagou caro!
No entanto, não creio que o ex-prefeito tenha jogado sua carreira política abaixo. Tem nome suficiente para conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2014.
Já o candidato Alexandre errou bastante no início de sua propaganda política. Não conseguiria vencer uma eleição desse porte sem apontar os principais erros cometidos pela atual administração. Foi corrigindo, aos poucos adicionando tais críticas em paralelo a propostas concretas. Promoveu um discurso que denunciava a megalomania da cidade perfeita vista no programa do adversário. Outro ponto importantíssimo foi a frequente associação PT-Polo Naval, fortalecida após a visita da Presidente Dilma à Cidade do Rio Grande e a vinculação de um vídeo onde o ex-presidente Lula pedia votos ao candidato Alexandre. Depois disso, até o mais desavisado não cairia na paternidade do investimento reivindicada pelo PMDB.

Tirando uma casquinha...

O segundo maior perdedor dessa eleição foi Júlio Martins (até porque os outros dois candidatos já haviam perdido a única coisa que lhes restavam, a vergonha). No momento de lançamento de sua candidatura ao paço municipal, o futuro parecia verde. Uma boa terceira colocação (demostrando que o PT sem o PCdoB não faria frente à situação), uma fácil eleição de Petter Botelho para a Câmara Municipal e, o melhor de tudo, Manuela D’Ávila Prefeita de Porto Alegre. Esse era o quadro que levaria a candidata comunista (não acredito que escrevi isso!) ao Governo do Estado em 2014. Um forte PCdoB estaria sendo gestado para os próximos anos, tendo em Júlio uma forte liderança local! Não aconteceu. Manuela juntou-se ao que há de mais reacionário na política regional, Ana Amélia Lemos, e perdeu seu púbere encanto. Qual jovem identificado com a esquerda carregaria orgulhosamente uma bandeira de uma candidata que vende uma imagem de renovação e, ao mesmo tempo, alia-se com a imagem cadavérica do Partido Progressista? Esse encanto durou bem pouco. Seria a morte precoce da candidata? Ainda é cedo para falar, mas o tombo foi grande, muito grande. Afinal, qual a ideologia partidária da Manuela? Difícil... Mas ainda bem que tem o PPS por aí...

O café da manhã é um bom momento para planejar a revolução proletária

Voltando ao Júlio, serão quadro longos anos sem um dos mais importantes vereadores do Rio Grande. A esquerda perde uma liderança na Casa, devendo essa ser repassada para Spotorno.
Que tenhamos uma boa transição e a presteza suficiente para cobrar e fiscalizar os próximos 4 anos de governo.

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